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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

SÍRIA E O MUNDO ESTÃO PERDIDO

Se soubesse nadar,
Talvez tivesse chegado à praia, 
Com vida, mas ele tinha apenas 3 anos.
Minutos antes do naufrágio, 
A mãe o apertara contra os seios, 
Mesmo pequenino pressentia a grande desgraça,
Fechou os olhinhos e teve uma brevíssima miragem:
Ele ganhara asas do gigante Albatroz,
O pequeno barco voaria como avião,
Salvando todos, a mãe e o irmão.
Ah, a poesia quisera ser Alá,
Quisera ser Iemanjá, Quisera ser Deus,
Para tê-lo transformado num peixinho sírio
Que chegasse saltitante à praia turca.
Ah, a poesia quisera ser um chefe de Estado
Que tivesse alma,
Que retirasse das fronteiras os cães e o arame farpado,
Que poupasse a humanidade desse crime hediondo:
Um menino, reduzido a um corpinho sem vida,
Calçado, e vestido de camiseta vermelha e bermuda azul.

(Adalberto Monteiro, são paulo, 3 setembro 15)

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