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segunda-feira, 9 de abril de 2012

REINO DE DEUS: Aparência Religiosa ou Transparência Espiritual?


Para as massas, em muitas igrejas, a verdade do reino de Deus é substituída pelo espetáculo de imagens, com aparentemente seriedade de conteúdos aonde a emoção e a paixão imobiliza, absorve e hipnotiza os religiosos que aderem e participam do rito influenciado pelo líder, que tenta expressar e reavivar percepções e sentimentos nas pessoas pela busca da facilidade de bênçãos na convivência social dos templos.

Na rotina da vida cotidiana, exigências e projetos pessoais que envolvem pensamentos, sentimentos e ações, são transferidos para a prática religiosa do culto no templo, como nova necessidade de tentar comunicar e abstrair a ordem e a presença do sagrado como se usar uma linguagem verbal e cinestésica no templo provocasse a canalização de forças sagradas entre o altar e os que são ativados no meio do povo.

Quando não há uma discussão do sentido da vida nas mensagens, nem mudança de vida nas pessoas, a diversão não provoca uma profundidade psicológica ou catarse como a descarga de uma noção de realidade, aonde os fundamentos da vida humana não sendo pensados, não convencem as pessoas nem há transformação da sociedade por causa da falta da mudança de mente que não ocorre pela falta de transformação dos sentimentos.

Tentando compreender os valores e sua relação com as necessidades humanas, podemos supor que a passividade, a falta de sentido na vida e a falta de reafirmação pessoal decorrem da falta de objetivos concretos e do individualismo desmotivador pregados na maioria das igrejas, atraindo pessoas aos espetáculos religiosos aonde se promete que “Deus vai aparecer e vai derramar poder”.

Analisando e tentando reconstituir os conflitos entre o profano e o sagrado, observa-se que a simulação de vínculos, caminhos, alvos, como a noção de santidade e a relação entre o sacrifício e a gratidão a Deus são secularizados pelos serviços religiosos aonde a rigidez dogmática ou a expressão da conduta pessoal da fé exacerbadas geram amarras a uma maior proximidade das pessoas com Deus, aonde a manifestação estética comportamental se situa na maioria das vezes mais importante que a própria busca do encontro.

O grande desafio do esforço humano atual envolve construir uma cultura simbólica que muitas vezes usa de coerção para tentar impor moldes de construções sociais, manipulando técnicas, símbolos, sinais e processos como forma de reinventar instituições religiosas capazes de querer conectar os valores eternos da igreja-corpo de Cristo com o processo de construção dos cultos e missas construídos apenas como deveres e direitos.

Há muito cinismo e dissimulação no zelo e manutenção dos ministérios eclesiais, aonde muitos se desviam e se sujam em busca de um sucesso acima dos meios éticos, aonde liturgias são controladas, bem como a forma de ações, gestos e palavras, tentando forçar uma aparente exteriorização do sagrado inserindo expressões gestuais e rituais querendo demonstrar aparente originalidade, pureza espiritual como gritos de “glórias a Deus” e “aleluias”, porém se mudança cotidiana interior.

Correntes, campanhas, concentrações, caravanas, cruzadas, festas dos estados, bazares comerciais e todo tipo de criatividade e liberdade misturam a comédia sem ética que visa apenas gerar satisfação e alegria no público consumidor para ninguém sair frustrado do culto e ao mesmo tempo seduzir e persuadir as mentes a acreditarem que se manifestaram com o sagrado , presente de forma invisível, ainda que ao final do culto não haja semelhança nem legitimidade na obediência a Jesus como Senhor e nem mesmo entendimento sobre o que é ser igreja.

O altar, palco de atuação de muitos que se dizem mais santos e consagrados e ungidos, é ornamentado, organizado e padronizado como cenário de uma ideologia cênica e de linguagem ideológica de modo que tudo o que é artificial, curioso e aparentemente gratuito seja comunicado e socializado como algo de manuseio e interação com o sagrado.

A utilidade da manipulação é um signo que comunica e transmite significados e leituras distanciadas da própria experiência com o sagrado aonde o que é imposto de forma arbitrária pelo grupo de fé quer forçar a consagração, santificação e manipulação do sagrado apenas para atrair lucro, inclusive a suposta comunicação com o sagrado.

Essa lógica de impor marcas religiosas àquilo que se acha que se vale pelo uso ou que se considera como algo que desperte fé nas pessoas é um tipo de fé que estimula e desperta mais o mito, o misticismo, uma cultura intuitiva supersticiosa, idólatra e ignorante, mera emoção mística subjetiva que a espiritualidade bíblica e comprometida com a verdade.

Temos por exemplos, a aparente verdade de que a ponte entre a realidade entre Deus e o mundo é a igreja instituição ou que o mecanismo da bênção de Deus é o dízimo, ou que tudo aquilo que gera confusão ou polêmica é do diabo e ainda que quem se levantar contra o pastor que é o único ungido de Deus, morrerá.

Na verdade, o que é de fundamental importância para o sagrado é o estabelecimento de ligações entre pessoas, o que não ocorre nas igrejas secularizadas e fragmentadas, aonde o comportamento e a motivação inconscientes dos líderes estão voltados ao lucro e a do povo ao privilégio tido como legitimidade diante do sagrado de servir aos líderes como forma de atrair as bênçãos do sagrado.

O problema é que quando há uma frieza rotineira e o desinteresse do povo pela graça do sagrado, a comoção banal substitui a educação teológica pela permissão de se transitar livremente entre o sagrado e o profano, valorizando mais as atividades e ordenanças religiosas ministeriais que a totalidade da experiência dentro e fora dos templos com o sagrado.

A cultura diversificada ministerial e religiosa acaba criando um serviço lúdico, um culto show vazio de aparente espiritualidade aonde a pregação contagia e cria crenças, motivações simbólicas de alta intensidade, dramatizando uma suposta dimensão sagrada, confirmação do encontro com o Eterno, mas depois tudo se acaba, aonde as pessoas saem de cena, ao final do culto, quebradas, desconfortadas, sem que se sintam realizadas.

O avivamento popular que prioriza a oferta e o milagre, a estética acima da ética, a supervalorização do status acima do esvaziamento interior para o Eterno, provoca nas pessoas um aumento de demanda por rituais arrecadatórios, gerando líderes copiando líderes, emprego de técnicas de oratória, hipnose e técnicas teatrais, temendo-se o esvaziamento da plateia e ao mesmo tempo, querendo vencer a concorrência religiosa.

O pastor, padre, bispo, etc., acaba tendo que ser um animador simpático, administrador frio e calculista, psicoterapeuta breve e profissional eficiente em demonstrar respostas rápidas a todos os problemas, aonde a crença se torna objeto de disputa não apenas religiosa, mas financista e política.

A manipulação dos líderes implica em uma apropriação do direito exclusivo da instituição em querer ser detentora da verdade do Reino de Deus, apropriando-se dos bens do povo, atacando concorrentes, vendendo ideias e amuletos, criando sociedade particular de consumo, associando falsas ideias e sentimentos especulando submissão ao líder como distinção espiritual de justiça ao sagrado, coergindo e manipulando membros a serviços gratuitos à instituição, como regime escravocrata inconsciente.

A consagração e a oferta de amor ligadas à energização, fluidificação e trocas religiosas são tão nocivas quando à ideia de viver pela fé sem usar dinheiro da igreja, usando sua presença, voz, gestos, dramaticidade e glossolalia para provocar atitudes, mudanças e reações nos comportamentos das pessoas, dizendo que não vende nada, mas coloca vendas nos olhos das pessoas para se afastarem da graça de Deus pela doação forçada.

Palavras, gestos, choros, orações prolongadas com discursos enfeitados subliminares de líderes vestidos ricamente com trajes de modernos executivos de sucesso , bradam um poder espiritual ressoado pela mesa de som e as filmadoras de TV, controlando e domesticando a atenção das pessoas, tornando a massa um rebanho habituado, obediente e dependente totalmente do líder, como forma institucional de controle permanente dos fiéis, sendo ele mesmo, o sentido da vida dos expectadores extasiados.

Nesse caso, quem se rebela ao líder onipotente e admirado, vaidoso e orgulhoso do poder de influência da midia, se rebela contra o próprio “deus?” na igreja que é tida como ligação entre o divino e o povo, aonde os milagres são associados aos nomes dos líderes.

Líderes fortes, centralizadores, carismáticos, legais, arrebatadores de novas imensas plateias, personagens centrais de impérios religiosos transmitidos de pai para filho, que remanejam e excluem quem esteja crescendo em influência no ministério, aparentemente disputando em poder e posição com o fundador, tido como divino, que na verdade, aparentam serem perseguidos, vítimas de golpes, aparentando serem humildes e mansos.

Sua administração é centralizada, igreja-empresa, coletando dízimos e ofertas de shows-cultos, aonde o líder de sucesso é aquele que consegue arrecadar mais, que supera metas de rendimentos, que provoca emoções no auditório, que consegue criar compromissos financeiros permanentes nos membros, que consegue persuadir o povo a conseguir resultados monetários acima da vontade de resgatar a moralidade do Evangelho.

Muitos líderes abandonaram o desejo de combater essa farsa espiritual por causa da comodidade e do conforto de receberem dinheiro, de estarem aliados a este sistema religioso que se incumbe de encarnar a divindade no altar,mas que faz o diabo para lucrar, sendo vendedores da instituição como se fossem vendedores de uma empresa, partidários políticos ou defensores fanáticos de um time de futebol.

O estigma de ser homem de Deus, ungido ou anjo da igreja, desperta a falsa associação no povo de que estes devem ser obedecidos, sem críticas, pois todos seriam sinceros e aprovados pela divindade, o que não explica os escândalos nem a existência de “vigilantes, porteiros, guardiões, leões de chácara diáconos guarda-costas, seguranças” afastando as pessoas dos líderes e muito menos a existência de falta de vínculo empregatício para quem é explorado em nome da instituição, que tem sua vida explorada, como se fosse para Deus, prejudicando até mesmo sua família e sucesso individual.

Na inauguração dos templos, muitas vezes, há simulação persuasiva baseada na propaganda de falsos milagres, falsas curas e falsas doações, levando o povo à histerias, êxtase, veneração aos líderes e às igrejas, que vigiam os estranhos e que têm os pesquisadores e curiosos longe como se fossem demônios atrapalhando o avivamento.

Desviam a atenção das pessoas, constroem barreiras, têm segredos particulares, encobertam conflitos e escândalos nos bastidores, usam entonação, ritmo e velocidade da voz para criar um clima espiritual, se vestem na moda, conduzem cânticos de fácil assimilação, inserem estrelas e astros cantores, incluindo vendas de CDS e DVDs e criam novos símbolos, conceitos, ícones, ideologias, dogmas, no imaginário social, trazendo uma noção de modernidade à igreja como se os seus líderes fossem a encarnação de deus na terra.

Fonte: Texto lido e adaptado: Teatro, Templo e Mercado: Organização e marketing de um Empreendimento Neopentecostal, (de Leonildo Silveira Campos.)
"Salus animarum suprema lex ecclesiae"