Como
bom nordestino o bode é um animal que bastante aprecio, sua carne preparada das
mais diversas formas é um dos meus pratos prediletos. Contudo, não esse tipo de
bode que mais chama a minha atenção e sim a figura do bode expiatório, já que o
mesmo sempre me proporcionou um debate ético bastante interessante.
O
bode expiatório é uma figura ritualística da Antiga Aliança relatada em
Levítico 16: 15-28, o relato bíblico descreve de como era purificado o pecado
do povo: Era escolhido entre dois bodes, por meio de sorte; depois de
sacrificar sangue do primeiro, tomava o segundo, impunha as mãos e confessava
os pecados do povo e soltava o bode em lugar deserto.
Não
quero entrar nos debates teológicos acerca da questão, contudo, ressalto que os
rituais da Antiga Aliança, como assevera o autor da carta aos Hebreus, eram sombras
das coisas futuras, das quais muitas delas se consumariam na pessoa do Senhor
Jesus Cristo.
Contudo,
hoje a figura do bode expiatório toma nova dimensão, estando ligado com a idéia
de alguém que leva a culpa por outro, sendo muito comum em nossa sociedade o
estabelecimento desse ente.
Quando
alguém é pego em alguma falta, a primeira idéia que emerge do senso comum é a
de arrumar um responsável ou mesmo um culpado para atenuar os erros apontados.
Essa
história vem de longa data, pois o nosso pai Adão ao ser interpelado pelo próprio
Deus já arrumou de pronto um “bode expiatório”, ou melhor, uma “cabra
expiatória” declarando: “Senhor a mulher que tu me deste por esposa, ela me deu
da árvore e eu comi (Gen 3:12)”. Por conseguinte, Eva também cria o seu bode ou melhor uma “cobra
expiatória”, culpando a serpente por sua falta.
O
fato é que segundo o relato bíblico todos erraram, tendo, portanto, sua parcela
de culpa e consequentemente de responsabilidade. Ficando patente da história
bíblica, que quando alguém enaltece os erros alheios, parece tentar atenuar os
próprios desvios de conduta.
Essa
é uma questão ética que sempre me intrigou a ponto de me incomodar bastante,
principalmente quando o foco do debate deixa de ser a verdadeira falta, e passa
a ser, por exemplo, se a outra pessoa deveria ou não ter trazido a luz o desvio
de conduta.
Entendo
que
alguém que tenta esquivar dos seus erros, usando como escudo os erros
dos
outros, é leviano com sua própria personalidade, já que o crescimento
como
pessoa emerge muitas vezes do reconhecimento dos erros, e da consciência
que se deve melhorar assumindo as conseqüências de sua próprias
ações.
A
superação ética sempre virá da confrontação do eu com a conduta ideal, é ledo
engano acreditar que o fato de existir pessoas moralmente desviadas fará os
outros superiores no tocante a conduta moral.
O próprio Deus sempre
requer uma conduta de arrependimento frente aos erros cometidos por cada um: Quando
triunfam os justos, há grande festividade; quando, porém, sobem os
perversos, os homens se escondem.O que encobre as suas transgressões jamais
prosperará;mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia (Pv 28:12-13)
Em uma época onde impera o relativismo
ético-moral os “bodes expiatórios” são figuras cada vez mais úteis para aliviar
o peso na consciência das pessoas, mas uma coisa é certa, jamais conseguirão apagar
de fato as faltas e conseqüências dos desvios cometidos. Pense nisso!
(Pr. Jonas Silva)
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