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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um solilóquio


Resisto. Me inquieto. Sei da necessidade de deflacionar delírios onipotentes.

Hércules mal resolvido, vejo a vida passar, o cenário mudar. Os anos desembestados apressam o passo. “Onde fui parar?” Resisto, estranhado. Quero guiar o tempo.

Adio mortes. Esqueço que elas são necessárias; a semente não pode ficar só, enterrada. Esperneio. Tenho dó de Narciso humilhado. Devo guardar o que Walter Benjamin ensinou porque careço não só de “liberdade para” (freedom to) mas a “liberdade de” (freedom from). Enquanto eu só for “livre para” instrumentalizarei minha liberdade. Quando apreender o significado de “livre de”, entenderei o sentido de desapegar de nome, de respeitos institucionais, de ostentação. E aí, só aí, poderei simplesmente Ser.

Quero enfrentar a deliciosa e vertiginosa aventura de viver sem o chumbo que eu mesmo agrilhoei ao tornozelo. Ordeno à alma que retire as mordaças que permiti amarrarem na boca. Exorcizo o cenho medonho que fantasiei, e que me humilha sem sequer existir.

Quero entender o significado de simplicidade e perceber que a verdadeira vida se esconde no momento despretencioso, despido de grandiloquência. Os nascidos do Espírito são livres, leves, transparentes. Que minha simplicidade seja como uma janela aberta para a aragem sutil que sopra a infinita e imperceptível presença do Divino.

Texto: Ricardo Gondim Rodrigues

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